LIVRO
“Memória sobre o Mondego e Barra da Figueira”
Adolpho
Ferreira de Loureiro
Imprensa
Nacional
Lisboa, 1874
Excerto sobre a história do paul:
Obras para melhoramento da Agricultura ou da Saúde Pública
Saneamento dos terrenos e valas de esgoto dos campos
Paul de
Arzilla e Anobra
“Este paul, cuja máxima parte
pertencia ao conde de Óbidos, tinha o seu enchugo por três vallas no sentido do
seu comprimento, das quais duas desempenhavam as funções de vallas de cintura,
e a do centro era propriamente a do enchugo. Ao conde de Óbidos competia a
limpeza e abertura da parte baixa do campo, denominado de Arzilla, mediante o
quarto da producção do paul respectivo.
Ao princípio deste século
mudou-se o alveo do rio mais para o norte, e o paul ficou em péssimas condições
de esgoto, o que foi causa de em 1824 se determinasse a abertura da valla desde
a ponte do Paço até Pereira, por conta da real fazenda. As ultimas obras no
interior do paul foram feitas em 1828; mas havendo o seu rendimento sofrido
sequestro no tempo da usurpação, faltaram os meios para o custeamento d`aquelles
trabalhos, e as terras principiaram a ser abandonadas, até se tornarem
completamente infruiliferas, e o paul se alastrar rapidamente por todo o vale.
Quando se começaram os
trabalhos para o saneamento d`este paul o seu aspecto era repugnantíssimo. Em parte
alguma podiam sustentar-se os trabalhadores, sem pranchas em que se formassem,
para não se enterrarem n`aquelles terrenos moveis e inconsistentes. Abandonada
ao seu próprio peso, uma bandeirola de 2,5m enterrava-se facilmente na terra e
depois de extraída viam-se por alguns minutos sair à superfície, em muitas
bolhas, os gases provenientes da decomposição de todas as matérias orgânicas,
que compunham o solo. Nem os bunhos e palhiços, nascidos e creados
espontaneamente, podiam em alguns sítios ser colhidos.
Imagine-se o estado miserável
em que viveriam as povoações circunvizinhas (…)
(…) com o prolongamento da
valla de Pereira até o Porto de
Formozelha, o que deu para o paul o abaixamento de 1m no plano das águas, com a
reconstrucção do Pedrado Negro, e com os trabalhos que estamos ultimando no
interior do paul, ficará completamente esgotado, sendo já hoje as searas de
Anobra talvez as melhores de todo o campo, não só pela boa qualidade de
terreno, mas igualmente pela abundância de água para regas, de que ali se pode
dispor (1).
(1) Citarei um exemplo para mostrar o
benefício das obras. Um proprietário possuía no campo de Arzilla uma gleba de
terreno com 90 aguilhadas. Nada lhe produzia. Hoje está arrendada a 4 alqueires
por aguilhada (108$000 reis), alem do feijão que produz. O campo de Anobra
lucrou mais do que o de Arzilla, e há quatro annos que tem grande produção. Há
ali muitos terrenos arrendados a 10 alqueires de milho ou 3$000 reis por
aguilhada.”
(in pág. 195)
“Para se avaliar quanto é
trabalhoso este serviço, bastará dizer-se que as despezas da limpeza das vallas
de Arzilla e Anobra têem de ser repartidas por 377 propriedades.”
(in pág. 199)
“Vallas abertas ou
simplesmente limpas no paul de Arzilla e Anobra (de 1 de Julho de 1866 a 30 de
Junho de 1874): superfície melhorada (250 ha); despeza effectuada (2:188$630 reis); custos por conta
dos proprietários.”
(in quadro da
pág. 200-201)
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