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sábado, 12 de março de 2011

HISTÓRIA DO PAUL


LIVRO


“Memória sobre o Mondego e Barra da Figueira”
 Adolpho Ferreira de Loureiro
 Imprensa Nacional
Lisboa, 1874
 
 
Excerto sobre a história do paul:

Obras  para  melhoramento  da  Agricultura  ou  da  Saúde  Pública

Saneamento  dos  terrenos  e  valas  de  esgoto  dos  campos   

Paul  de  Arzilla  e  Anobra

“Este paul, cuja máxima parte pertencia ao conde de Óbidos, tinha o seu enchugo por três vallas no sentido do seu comprimento, das quais duas desempenhavam as funções de vallas de cintura, e a do centro era propriamente a do enchugo. Ao conde de Óbidos competia a limpeza e abertura da parte baixa do campo, denominado de Arzilla, mediante o quarto da producção do paul respectivo. 

Ao princípio deste século mudou-se o alveo do rio mais para o norte, e o paul ficou em péssimas condições de esgoto, o que foi causa de em 1824 se determinasse a abertura da valla desde a ponte do Paço até Pereira, por conta da real fazenda. As ultimas obras no interior do paul foram feitas em 1828; mas havendo o seu rendimento sofrido sequestro no tempo da usurpação, faltaram os meios para o custeamento d`aquelles trabalhos, e as terras principiaram a ser abandonadas, até se tornarem completamente infruiliferas, e o paul se alastrar rapidamente por todo o vale.

Quando se começaram os trabalhos para o saneamento d`este paul o seu aspecto era repugnantíssimo. Em parte alguma podiam sustentar-se os trabalhadores, sem pranchas em que se formassem, para não se enterrarem n`aquelles terrenos moveis e inconsistentes. Abandonada ao seu próprio peso, uma bandeirola de 2,5m enterrava-se facilmente na terra e depois de extraída viam-se por alguns minutos sair à superfície, em muitas bolhas, os gases provenientes da decomposição de todas as matérias orgânicas, que compunham o solo. Nem os bunhos e palhiços, nascidos e creados espontaneamente, podiam em alguns sítios ser colhidos.

Imagine-se o estado miserável em que viveriam as povoações circunvizinhas (…)

(…) com o prolongamento da valla de Pereira  até o Porto de Formozelha, o que deu para o paul o abaixamento de 1m no plano das águas, com a reconstrucção do Pedrado Negro, e com os trabalhos que estamos ultimando no interior do paul, ficará completamente esgotado, sendo já hoje as searas de Anobra talvez as melhores de todo o campo, não só pela boa qualidade de terreno, mas igualmente pela abundância de água para regas, de que ali se pode dispor (1).


(1) Citarei um exemplo para mostrar o benefício das obras. Um proprietário possuía no campo de Arzilla uma gleba de terreno com 90 aguilhadas. Nada lhe produzia. Hoje está arrendada a 4 alqueires por aguilhada (108$000 reis), alem do feijão que produz. O campo de Anobra lucrou mais do que o de Arzilla, e há quatro annos que tem grande produção. Há ali muitos terrenos arrendados a 10 alqueires de milho ou 3$000 reis por aguilhada.”

(in pág. 195)
 
 
“Para se avaliar quanto é trabalhoso este serviço, bastará dizer-se que as despezas da limpeza das vallas de Arzilla e Anobra têem de ser repartidas por 377 propriedades.” 
 
(in pág. 199)


“Vallas abertas ou simplesmente limpas no paul de Arzilla e Anobra (de 1 de Julho de 1866 a 30 de Junho de 1874): superfície melhorada (250 ha); despeza  effectuada (2:188$630 reis); custos por conta dos proprietários.”   
 
(in quadro da pág. 200-201)




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